É a infecção causada pelo protozoário Cryptosporidium spp. Este
parasito é um pequeno coccídio intracelular obrigatório das células epiteliais
do trato gastrointestinal e respiratório do homem e de alguns animais. O
parasito localiza na parte externa do citoplasma da célula; esta localização é
designada intracelular extracitoplasmática. A infecção tem sido documentada do
esôfago ao reto, embora o habitat preferencial seja o intestino delgado. É uma
zoonose com ampla distribuição geográfica.
O C. parvum não é uma espécie uniforme, mas
espécies genotípicas. No gênero Cryptosporidium estão incluídos pelos menos 7 espécies
associadas com infecção intestinal em seres humanos: C.
hominis, C. parvum, C. felis, C. meleagridis, C. canis, C. suis e C. muris. As
espécies C. parvum e C. hominis são as mais prevalentes em humanos.
É responsável por diarreia
esporádica em todas as idades, diarreia aguda em crianças e a diarreia dos
viajantes. Em indivíduos imunocompetentes, esse quadro é autolimitado, entre 1
e 20 dias, com duração média de 10 dias. Em imunodeprimidos, particularmente
com infecção por HIV, ocasiona enterite grave, caracterizada por diarreia
aquosa, acompanhada de dor abdominal, mal-estar, anorexia, náuseas, vômitos e
febre. Esses pacientes podem desenvolver diarreia crônica e severa, acompanhada
de desnutrição, desidratação e morte fulminante. Nessa situação, podem ser
atingidos os pulmões, trato biliar ou surgir infecção disseminada.
A criptosporidíase se mantém nos países em
desenvolvimento ao redor de 6%. O diagnóstico laboratorial da
criptosporidíase baseia-se no exame
parasitológico de fezes com
pesquisa de oocistos; no
método imunoenzimático – ELISApara
pesquisa de antígenos em fezes; e pela biologia molecular (Reação em Cadeia da
Polimerase - PCR).
ISOSPORÍASE
Isospora belli
O Isospora belli é o protozoário coccídeo causador
da isosporíase,
doença rara que tem sido registrada em países das mais diversas regiões do
mundo.
O oocisto constitui
a forma infectante da isosporíase, pois é eliminado nas fezes e possibilita a
infecção por via fecal-oral. O ciclo assexuado tem início quando o oocisto é
formado e eliminado, sendo que após a sua eliminação se dá a esporulação. A
esporulação é caracterizada pelo aumento de volume do parasito e pela produção
de esporozoítos no seu interior. Após a ingestão, o oocisto esporulado rompe no intestino liberando os esporozoítos que invadem os enterócitos.
No fim do crescimento do esporozoíto o
núcleo começa a se dividir várias vezes, de forma assexuada, o que resulta em
uma forma multinucleada, o esquizonte. Depois da formação do esquizonte, ocorre
uma repetição da etapa anterior, processo que passa a se denominar esquizogonia.
Sua função é produzir merozoítos, permitindo a invasão de novas células
hospedeiras. A partir desses merozoítos pode
recomeçar outro ciclo assexuado ou iniciar um processo de reprodução sexuada (esporogonia).
O ciclo sexuado tem
início quando os merozoítos se
diferenciam em gametócitos no
interior do enterócito,
sendo que aqueles que se destinam a produzir gametas masculinos são os microgametócitos,
e os que se transformarão em gametas femininos são os macrogametócitos.
Quando o microgametócito é liberado do enterócito,
invade a célula onde está o macrogametócito formando
o zigoto, que logo se encista, e por isso passa a se chamar oocisto. O tempo da
esporulação depende das condições
ambientais do solo onde está o oocisto. A esporulação só estará completa quando cada esporoblasto formar esporozoítas,
que é o que caracteriza o oocisto infectante
As infecções humanas são geralmente assintomáticas.
No entanto, nos demais casos, há febre, diarréia e cólicas abdominais, sendo
que quando a isosporíase ocorre em aidéticos essas
manifestações tornam-se crônicas.
O diagnóstico
laboratorial é feito através da visualização de oocistos nas fezes.
A prevenção se faz com
adequada higiene pessoal e alimentar, evitando a contaminação do meio ambiente
por fezes humanas, fervendo a água e realizando a cocção dos alimentos.
TOXOCARÍASE
A toxocaríase é uma doença causada pelos parasitas nematódeos Toxocara canis, cujo
hospedeiro definitivo é o cão; e Toxocara cati, do gato. O gênero Toxocara é o causador de duas síndromes
zoonóticas importantes, a Larva migrans visceral (LMV) e a Larva
migrans ocular (LMO). Acredita-se que a maioria dos casos de
infecção seja assintomática.
Na Toxocaríase Visceral, a faixa etária mais
acometida é de 1 a 5 anos e os principais sintomas são: febre, hepatomegalia,
esplenomegalia, anemia, manifestações pulmonares, pneumonias, manifestações
neurológicas, edema nos membros inferiores e manifestações cutâneas.
Na Toxocaríase Ocular, a faixa etária mais
acometida é a partir dos 6 anos sendo o quadro clínico restrito ao olho, com
diminuição da acuidade visual, hiperemia ocular, estrabismo, endoftalmia
crônica, entre outros.
Os ovos de Toxocara
spp eliminados nas fezes de cães e gatos são muito resistentes, podendo
permanecer viáveis no ambiente por vários anos. Uma das vias de transmissão é a
ingestão de ovos infectantes diretamente através de contato com o animal
infectado ou indiretamente no meio ambiente, através de mãos ou objetos
contaminados com ovos larvados.
Podem ser tratados os sintomas da doença ou
aplicar-se especificamente drogas que atuem nas larvas, com objetivo de reduzir
a carga larvária nos tecidos.
Diagnóstico Laboratorial
Pesquisa de anticorpos em soro, líquor ou
humor aquoso.
Ensaio imunoenzimático (ELISA): detecta
anticorpos da classe IgG. Na Toxocaríase, níveis de anticorpos IgG e IgM podem
permanecer elevados por longos períodos, portanto a IgM não é um bom marcador
de fase aguda.
Resultado: 5 dias
LAGOQUILASCARÍASE
Lagochilascaris minor, eclodindo ovo.
Infecção humana por Lagochilascaris minor.
A lagoquilascaríase humana é
uma afecção rara, decorrente do parasitismo por Lagochilascaris minor Leiper, 1909, um pequeno nematódeo ascarídeo.
Como se trata, no homem, segundo se supõe, de um parasito errático, ele é
encontrado comumente em lesões tumorais no pescoço, mastoide e ouvido médio,
podendo aparecer também nos pulmões e no sistema nervoso central (VELOSO et al,
1992).
Das cinco espécies
conhecidas do gênero Lagochilascaris,
apenas o Lagochilascaris
minor foi registrado em diferentes oportunidades parasitando o homem. As descrições
iniciais do parasitismo humano por Lagochilascaris minor datam de 1909,
quando Leiper relatou seu encontro em abscessos subcutâneos observados em dois
pacientes em Trinídad. A infecção humana pelo Lagochilascaris minor é encontrada, comumente em lesões
supurativas na região cervical, seios paranasais, amígdalas e mastóide, com poucos
registros na literatura mundial limitados às Américas Central e do sul (SANTOS
et al, 1987).
Algumas
espécies foram encontradas parasitando animais domésticos como o cão e gato.
Estudos experimentais mostraram que o gato doméstico pode albergar os parasitos
adultos, comportando-se como hospedeiro definitivo. Evidências baseadas também
em modelos experimentais apontam os roedores silvestres como hospedeiros
intermediários deste parasito. A lagoquilascaríase humana é considerada uma
parasitose emergente, que tem sido registrada em áreas silvestres de países do
Continente Americano. No Brasil foram descritos, até o momento, 88 casos que
correspondem cerca de 80,7% do total de casos publicados na literatura mundial.
A maior parte dos casos foi procedente da região Norte do Brasil,
principalmente das áreas correspondentes aos Vales dos rios Tocantins e
Araguaia. O primeiro registro nacional da parasitose foi descrito por Artigas
et al em 1968 no estado de São Paulo em paciente natural do município de
Piracicaba (MONTEIRO et al, 2004).
Ciclo de Vida
De acordo com Fortes (apud
REIS et al, 2011, p.44) “Os helmintos são filiformes, com comprimento entre 1,0
a 2,0 cm, coloração branco-leitosa, com extremidade cefálica apresentando três
lábios bem desenvolvidos separados por interlábios, o que confere um aspecto
característico que lembra o lábio leporino. Ambos os sexos apresentam expansões
cuticulares laterais que se estendem por todo o corpo. A extremidade posterior
do macho é cônica e obtusa, levemente curvada para a face ventral e desprovida
de asa caudal, apresentando ainda de 24 a 25 pares de papilas pré-cloacais. As
fêmeas apresentam vulva situada na região mediana. Os ovos são arredondados ou
ovalados, de casca espessa e irregular, apresentando de 15 a 26 escavações em
torno da linha equatorial. Suas dimensões podem variar de 40 a 83 μm X 58 a 98
μm”.
Campos et al, Leão e Netto
(apud REIS et al, 2011, p.44), descreveram o ciclo do parasito “Os hospedeiros
defi nitivos são os felinos domésticos e silvestres, o homem e o cão (BARBOSA
et al., 2005) que albergam o parasito nas primeiras porções do sistema digestivo
ou respiratório, eliminando os ovos para o exterior juntamente com as fezes ou
por fístulas cervicais. Os ovos, quando embrionados, são ingeridos pelo
hospedeiro intermediário, neste caso um roedor, que alberga as larvas encistadas
na musculatura. Quando o roedor infectado for ingerido pelo hospedeiro definitivo
ou acidental, as larvas de terceiro estágio eclodem dos cistos no estômago,
migram para os tecidos da orofaringe, linfonodos cervicais, tecidos do pescoço,
mandíbula, seios paranasais, ouvido, alvéolo dentário, pulmões e cérebro, dando
origem aos parasitos adultos”
Relado
de casos
Reis (2011) realizou um
relato de caso onde constatou que o gato doméstico pode alojar o parasito como
hospedeiro definitivo, na lesão do mesmo foram encontrados tanto o verme
adulto, quanto seus ovos. Barbosa et al (2005) também realizou estudos em gatos
domésticos em laboratório que ficaram na posição de hospedeiros definitivos do
parasito e os mesmos tiveram comprometimento do sistema nervoso central, do
ouvido, do globo ocular, lesões na região cervical e orofaringe, com fístulas
para a luz do tubo digestivo, os gatos foram infectados ao consumir carne de
camundongos infectadas com cistos do parasito na terceira fase de estádio de
maturação, nesta caso no ciclo de vida do parasito o camundongo ocupa a posição
de hospedeiro intermediário, logo o ciclo biológico do parasito é heteroxênico,
podendo haver heteroinfecção e autoinfecção.
Monterio et al (2004),
Santos et al (1987) e Veloso et al (1992)
fizeram relato de casos de Lagoquilascaríase em humanos, em estados do
território brasileiro, na maioria dos casos foram contatadas fistulações e
tumorações no corpo e no estudo de Santos et al, foi verificada a presença do
verme no abscesso dentário de uma paciente do hospital de Goiânia.
Considerações
finais
O tratamento
da Lagoquilascaríase é ainda controverso. Vários anti-helmínticos empregados em
diferentes esquemas terapêuticos têm mostrado ação parcial ou temporária. Esta dificuldade
pode estar relacionada com a possibilidade de autoinfecção, uma vez que tem
sido observada nas lesões a presença de parasitos em todas as fases evolutivas
(MONTEIRO et al, 2004)
Devido à capacidade de
invasão do parasito e ao alto grau de processo inflamatório por ele
desencadeado, é importante a divulgação desta doença, a fim de permitir o diagnóstico
precoce e melhor resposta terapêutica. Sugere-se que o clínico veterinário
solicite exame parasitológico de fezes e de material purulento originário de
lesão de causa indeterminada para descartar ou confirmar a lagoquilaríase
felina, devido ao seu caráter zoonótico (REIS et al, 2011)
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
REIS,
Rodrigo A. dos. Et al... Lagochilascaris
minor (Nematoda, Ascarididae) em gato doméstico: relato de caso. Veterinária em Foco, Rio Grande do Sul,
v. 9, n. 1, p. 43-48, jul/dez. 2011.
OLIVEIRA,
Jayrson Araújo de, et al.. Isolado de Lagochilascaris minor: Procedimento para
obtenção de ovos infectantes. Revista de
Patologia Tropical, Vol. 31, n. 1, p. 121-128, jan/jun. 2002.
MONTEIRO, Almir Venilton, et al... Infecção humana por Lagochilascaris minor Leiper
1909, no Vale do Ribeira, estado de São Paulo, Brasil (Relato de Caso). Ver.
Inst. Adolfo Lutz, Vol. 63, n. 2,
p. 269-272, 2004.
SANTOS, Maria Alves Queiroz dos,
et al... Lagochilascaris minor
(LEIPER, 1909) — EM ABSCESSO DENTÁRIO EM GOIÂNIA. Revista de Patologia
Tropical, Vol. 16, n. 1, p. 1-16, jan/jun. 1987.
VELOSO,
Moema Gonçalves Pinheiro, et al... Lagoquilascaríase Humana, sobre três casos
encontrados no distrito federal, Brasil. Ver. Inst. Med. Trop. São Paulo, Vol.
34, n. 6, p. 587-591, nov/dez, 1992.
BARBOSA, Carlos Augusto Lopes, et al... Gato Doméstico
(Felis catus domesticus) como
possível reservatório de Lagochilascaris
minor Leiper (1909). Revista de
Patologia Tropical, Vol. 34, n. 3, p. 205-211, set/dez. 2005.