Pesquisar este blog

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

Zoonoses e Protozooses




É a infecção causada pelo protozoário Cryptosporidium spp. Este parasito é um pequeno coccídio intracelular obrigatório das células epiteliais do trato gastrointestinal e respiratório do homem e de alguns animais. O parasito localiza na parte externa do citoplasma da célula; esta localização é designada intracelular extracitoplasmática. A infecção tem sido documentada do esôfago ao reto, embora o habitat preferencial seja o intestino delgado. É uma zoonose com ampla distribuição geográfica.
O C. parvum não é uma espécie uniforme, mas espécies genotípicas. No gênero Cryptosporidium estão incluídos pelos menos 7 espécies associadas com infecção intestinal em seres humanos: C. hominis, C. parvum, C. felis, C. meleagridis, C. canis, C. suis e C. muris. As espécies C. parvum e C. hominis são as mais prevalentes em humanos.
É responsável por diarreia esporádica em todas as idades, diarreia aguda em crianças e a diarreia dos viajantes. Em indivíduos imunocompetentes, esse quadro é autolimitado, entre 1 e 20 dias, com duração média de 10 dias. Em imunodeprimidos, particularmente com infecção por HIV, ocasiona enterite grave, caracterizada por diarreia aquosa, acompanhada de dor abdominal, mal-estar, anorexia, náuseas, vômitos e febre. Esses pacientes podem desenvolver diarreia crônica e severa, acompanhada de desnutrição, desidratação e morte fulminante. Nessa situação, podem ser atingidos os pulmões, trato biliar ou surgir infecção disseminada.
A criptosporidíase se mantém nos países em desenvolvimento ao redor de 6%. O diagnóstico laboratorial da criptosporidíase baseia-se no exame parasitológico de fezes com pesquisa de oocistos; no método imunoenzimático – ELISApara pesquisa de antígenos em fezes; e pela biologia molecular (Reação em Cadeia da Polimerase - PCR).


ISOSPORÍASE 

Isospora belli

O Isospora belli é o protozoário coccídeo causador da isosporíase, doença rara que tem sido registrada em países das mais diversas regiões do mundo.
O oocisto constitui a forma infectante da isosporíase, pois é eliminado nas fezes e possibilita a infecção por via fecal-oral. O ciclo assexuado tem início quando o oocisto é formado e eliminado, sendo que após a sua eliminação se dá a esporulação. A esporulação é caracterizada pelo aumento de volume do parasito e pela produção de esporozoítos no seu interior. Após a ingestão, o oocisto esporulado rompe no intestino liberando os esporozoítos que invadem os enterócitos. No fim do crescimento do esporozoíto o núcleo começa a se dividir várias vezes, de forma assexuada, o que resulta em uma forma multinucleada, o esquizonte. Depois da formação do esquizonte, ocorre uma repetição da etapa anterior, processo que passa a se denominar esquizogonia. Sua função é produzir merozoítos, permitindo a invasão de novas células hospedeiras. A partir desses merozoítos pode recomeçar outro ciclo assexuado ou iniciar um processo de reprodução sexuada (esporogonia).
O ciclo sexuado tem início quando os merozoítos se diferenciam em gametócitos no interior do enterócito, sendo que aqueles que se destinam a produzir gametas masculinos são os microgametócitos, e os que se transformarão em gametas femininos são os macrogametócitos. Quando o microgametócito é liberado do enterócito, invade a célula onde está o macrogametócito formando o zigoto, que logo se encista, e por isso passa a se chamar oocisto. O tempo da esporulação depende das condições ambientais do solo onde está o oocisto. A esporulação só estará completa quando cada esporoblasto formar esporozoítas, que é o que caracteriza o oocisto infectante
           As infecções humanas são geralmente assintomáticas. No entanto, nos demais casos, há febre, diarréia e cólicas abdominais, sendo que quando a isosporíase ocorre em aidéticos essas manifestações tornam-se crônicas.
O diagnóstico laboratorial é feito através da visualização de oocistos nas fezes.
A prevenção se faz com adequada higiene pessoal e alimentar, evitando a contaminação do meio ambiente por fezes humanas, fervendo a água e realizando a cocção dos alimentos.


TOXOCARÍASE

A toxocaríase é uma doença causada pelos parasitas nematódeos Toxocara canis, cujo hospedeiro definitivo é o cão; e Toxocara cati, do gato. O gênero Toxocara é o causador de duas síndromes zoonóticas importantes, a Larva migrans visceral (LMV) e a Larva migrans ocular (LMO). Acredita-se que a maioria dos casos de infecção seja assintomática.
Na Toxocaríase Visceral, a faixa etária mais acometida é de 1 a 5 anos e os principais sintomas são: febre, hepatomegalia, esplenomegalia, anemia, manifestações pulmonares, pneumonias, manifestações neurológicas, edema nos membros inferiores e manifestações cutâneas.
Na Toxocaríase Ocular, a faixa etária mais acometida é a partir dos 6 anos sendo o quadro clínico restrito ao olho, com diminuição da acuidade visual, hiperemia ocular, estrabismo, endoftalmia crônica, entre outros.
Os ovos de Toxocara spp eliminados nas fezes de cães e gatos são muito resistentes, podendo permanecer viáveis no ambiente por vários anos. Uma das vias de transmissão é a ingestão de ovos infectantes diretamente através de contato com o animal infectado ou indiretamente no meio ambiente, através de mãos ou objetos contaminados com ovos larvados.
Podem ser tratados os sintomas da doença ou aplicar-se especificamente drogas que atuem nas larvas, com objetivo de reduzir a carga larvária nos tecidos.

Diagnóstico Laboratorial
Pesquisa de anticorpos em soro, líquor ou humor aquoso.
Ensaio imunoenzimático (ELISA): detecta anticorpos da classe IgG. Na Toxocaríase, níveis de anticorpos IgG e IgM podem permanecer elevados por longos períodos, portanto a IgM não é um bom marcador de fase aguda.
Resultado: 5 dias


LAGOQUILASCARÍASE

Lagochilascaris minor, eclodindo ovo.

Infecção humana por Lagochilascaris minor.

A lagoquilascaríase humana é uma afecção rara, decorrente do parasitismo por Lagochilascaris minor Leiper, 1909, um pequeno nematódeo ascarídeo. Como se trata, no homem, segundo se supõe, de um parasito errático, ele é encontrado comumente em lesões tumorais no pescoço, mastoide e ouvido médio, podendo aparecer também nos pulmões e no sistema nervoso central (VELOSO et al, 1992).
Das cinco espécies conhecidas do gênero Lagochilascaris, apenas o Lagochilascaris minor foi registrado em diferentes oportunidades parasitando o homem. As descrições iniciais do parasitismo humano por Lagochilascaris minor datam de 1909, quando Leiper relatou seu encontro em abscessos subcutâneos observados em dois pacientes em Trinídad. A infecção humana pelo Lagochilascaris minor é encontrada, comumente em lesões supurativas na região cervical, seios paranasais, amígdalas e mastóide, com poucos registros na literatura mundial limitados às Américas Central e do sul (SANTOS et al, 1987).
Algumas espécies foram encontradas parasitando animais domésticos como o cão e gato. Estudos experimentais mostraram que o gato doméstico pode albergar os parasitos adultos, comportando-se como hospedeiro definitivo. Evidências baseadas também em modelos experimentais apontam os roedores silvestres como hospedeiros intermediários deste parasito. A lagoquilascaríase humana é considerada uma parasitose emergente, que tem sido registrada em áreas silvestres de países do Continente Americano. No Brasil foram descritos, até o momento, 88 casos que correspondem cerca de 80,7% do total de casos publicados na literatura mundial. A maior parte dos casos foi procedente da região Norte do Brasil, principalmente das áreas correspondentes aos Vales dos rios Tocantins e Araguaia. O primeiro registro nacional da parasitose foi descrito por Artigas et al em 1968 no estado de São Paulo em paciente natural do município de Piracicaba (MONTEIRO et al, 2004).

Ciclo de Vida

De acordo com Fortes (apud REIS et al, 2011, p.44) “Os helmintos são filiformes, com comprimento entre 1,0 a 2,0 cm, coloração branco-leitosa, com extremidade cefálica apresentando três lábios bem desenvolvidos separados por interlábios, o que confere um aspecto característico que lembra o lábio leporino. Ambos os sexos apresentam expansões cuticulares laterais que se estendem por todo o corpo. A extremidade posterior do macho é cônica e obtusa, levemente curvada para a face ventral e desprovida de asa caudal, apresentando ainda de 24 a 25 pares de papilas pré-cloacais. As fêmeas apresentam vulva situada na região mediana. Os ovos são arredondados ou ovalados, de casca espessa e irregular, apresentando de 15 a 26 escavações em torno da linha equatorial. Suas dimensões podem variar de 40 a 83 μm X 58 a 98 μm”.
Campos et al, Leão e Netto (apud REIS et al, 2011, p.44), descreveram o ciclo do parasito “Os hospedeiros defi nitivos são os felinos domésticos e silvestres, o homem e o cão (BARBOSA et al., 2005) que albergam o parasito nas primeiras porções do sistema digestivo ou respiratório, eliminando os ovos para o exterior juntamente com as fezes ou por fístulas cervicais. Os ovos, quando embrionados, são ingeridos pelo hospedeiro intermediário, neste caso um roedor, que alberga as larvas encistadas na musculatura. Quando o roedor infectado for ingerido pelo hospedeiro definitivo ou acidental, as larvas de terceiro estágio eclodem dos cistos no estômago, migram para os tecidos da orofaringe, linfonodos cervicais, tecidos do pescoço, mandíbula, seios paranasais, ouvido, alvéolo dentário, pulmões e cérebro, dando origem aos parasitos adultos”

Relado de casos

Reis (2011) realizou um relato de caso onde constatou que o gato doméstico pode alojar o parasito como hospedeiro definitivo, na lesão do mesmo foram encontrados tanto o verme adulto, quanto seus ovos. Barbosa et al (2005) também realizou estudos em gatos domésticos em laboratório que ficaram na posição de hospedeiros definitivos do parasito e os mesmos tiveram comprometimento do sistema nervoso central, do ouvido, do globo ocular, lesões na região cervical e orofaringe, com fístulas para a luz do tubo digestivo, os gatos foram infectados ao consumir carne de camundongos infectadas com cistos do parasito na terceira fase de estádio de maturação, nesta caso no ciclo de vida do parasito o camundongo ocupa a posição de hospedeiro intermediário, logo o ciclo biológico do parasito é heteroxênico, podendo haver heteroinfecção e autoinfecção.
Monterio et al (2004), Santos et al (1987) e Veloso et al (1992)  fizeram relato de casos de Lagoquilascaríase em humanos, em estados do território brasileiro, na maioria dos casos foram contatadas fistulações e tumorações no corpo e no estudo de Santos et al, foi verificada a presença do verme no abscesso dentário de uma paciente do hospital de Goiânia.

Considerações finais

O tratamento da Lagoquilascaríase é ainda controverso. Vários anti-helmínticos empregados em diferentes esquemas terapêuticos têm mostrado ação parcial ou temporária. Esta dificuldade pode estar relacionada com a possibilidade de autoinfecção, uma vez que tem sido observada nas lesões a presença de parasitos em todas as fases evolutivas (MONTEIRO et al, 2004)
Devido à capacidade de invasão do parasito e ao alto grau de processo inflamatório por ele desencadeado, é importante a divulgação desta doença, a fim de permitir o diagnóstico precoce e melhor resposta terapêutica. Sugere-se que o clínico veterinário solicite exame parasitológico de fezes e de material purulento originário de lesão de causa indeterminada para descartar ou confirmar a lagoquilaríase felina, devido ao seu caráter zoonótico (REIS et al, 2011)

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

REIS, Rodrigo A. dos. Et al... Lagochilascaris minor (Nematoda, Ascarididae) em gato doméstico: relato de caso. Veterinária em Foco, Rio Grande do Sul, v. 9, n. 1, p. 43-48, jul/dez. 2011.

OLIVEIRA, Jayrson Araújo de, et al..  Isolado de Lagochilascaris minor: Procedimento para obtenção de ovos infectantes. Revista de Patologia Tropical, Vol. 31, n. 1, p. 121-128, jan/jun. 2002.

MONTEIRO, Almir Venilton, et al... Infecção humana por Lagochilascaris minor Leiper 1909, no Vale do Ribeira, estado de São Paulo, Brasil (Relato de Caso). Ver. Inst. Adolfo Lutz, Vol. 63, n. 2, p. 269-272, 2004.

SANTOS, Maria Alves Queiroz dos, et al... Lagochilascaris minor (LEIPER, 1909) — EM ABSCESSO DENTÁRIO EM GOIÂNIA. Revista de Patologia Tropical, Vol. 16, n. 1, p. 1-16, jan/jun. 1987.

VELOSO, Moema Gonçalves Pinheiro, et al... Lagoquilascaríase Humana, sobre três casos encontrados no distrito federal, Brasil. Ver. Inst. Med. Trop. São Paulo, Vol. 34, n. 6, p. 587-591, nov/dez, 1992.

BARBOSA, Carlos Augusto Lopes, et al... Gato Doméstico (Felis catus domesticus) como possível reservatório de Lagochilascaris minor Leiper (1909). Revista de Patologia Tropical, Vol. 34, n. 3, p. 205-211, set/dez. 2005.

domingo, 5 de fevereiro de 2017

ZONA BENTÔNICA

ZONA BENTÔNICA

     Corresponde ao substrato e os organismos nele encontrados, que habitam desde as praias até as profundidades dos abismos  e fossas, é a região do ambiente marinho situada próxima do fundo oceânico. A fauna desta região caracteriza-se por organismos que rastejam, se prendem ou vivem enterrados na areia ou no lodo, o bentos, mas também abriga muitos animais do nécton, como os linguados e várias espécies de tubarão. Nela, são identificadas as sub-zonas:


# Supralitoral – área localizada acima da linha da maré mais alta, que constitui a praia propriamente dita, nela estão as restingas;
# Litoral – área regularmente coberta e descoberta pela água (situada entre a maré alta e a maré baixa). Os animais da zona de entremarés apresentam carapaças externas resistentes para garantir a proteção dos organismos contra choques mecânicos, causado pela ação das ondas.
# Sublitoral – zona que se estende do limite da maré baixa até as águas submersas, corresponde à projeção da zona nerítica até uma profundidade média de 180m.
Estas três primeiras sub-divisões correspondem a Zona das Marés, ou seja, a parte mais rasa da Plataforma Continental, que é constantemente influenciada pelas marés e por um conjunto de outros fatores como ventos, ondas, correntes marítimas, temperatura, clima e o tipo de rocha que forma a faixa do continente.

# Batial – zona que compreende profundidades entre 180m e 4000m. Corresponde à metade da área da Terra, e a 5/7 da área total dos oceanos.
#Abissal - os fundos oceânicos com profundidade média abaixo dos 2000 m, até o nível superior das valas oceânicas; possui fauna escassa e nenhuns organismos fotossintetizadores, uma vez que a luz do sol não consegue penetrar até estas profundidades.
# Hadal – áreas com profundidades superiores à 4000m. Estas correspondem a toda parte da Plataforma Continental restante, assim como todos os outros substratos mais profundos do oceano, as profundas fossas oceânicas.